sexta-feira, 19 de março de 2010

Figurinha 4 - elegia à velha Desterro

Neste último fim de tarde de verão queria colar uma figurinha especial, daquelas que nos álbuns de mercearia valeriam a troca por algum prêmio. Na próxima terça-feira, 23 de março, minha velha e calejada cidade natal completa mais um ano de existência. Vasculhei a rede inteira atrás de uma foto que representasse a minha fotografia desta cidade, e encontrei algo muito próximo ao que eu consideraria a foto perfeita.

Nada de pontes, nada de praias, nada de vistas panorâmicas. É este instantâneo que melhor representa a cidade para este que aqui derrama estas linhas.


Uma das melhores lembranças que tenho da infância era a ida ao centro da cidade (lá embaixo, como costumava dizer minha mãe, nativa que é). Como ela fazia roupinhas de criança sob encomenda, volta e meia havia a necessidade de ir ao centro comprar tecidos e aviamentos. E como éramos pequenos, íamos juntos.

Aí nesta esquina eternamente paralizada nesta foto, à esquerda havia uma confeitaria que minha mãe sempre nos levava para comermos uma coxinha com Laranjinha Max-Wilhelm. Infelizmente, esta confeitaria só existe na memória de quem aqui mora a mais de um quarto de século.

Na esquina seguinte, na direção da foto (ou seja, no sentido Praça XV para a Ponte) havia um fotógrafo onde íamos com alguma frequência. Época artesanal, onde bater fotos era quase um ritual. Diferente de hoje em dia, onde em poucos minutos uma pessoa com máquina pode rechear álbuns de fotos que levaríamos meses para enchê-los. Era uma esquina alegre, colorida por bolhinhas de sabão. Outro dia passei por esta esquina e espantei-me ao perceber que as bolinhas de sabão ainda estavam ali. Invisíveis, entretanto...

Para mim esta é a verdadeira beleza da cidade. A beleza não está em ver a ponte, que para mim não passa de um monumento, mas sim no hábito de arrumar-me para atravessá-la e ir ao centro. Não está em ir à praia e ouvir as gírias da moda, está em ir às compras e ouvir a balconista te perguntar: "queira mais?" Não está em ter uma cidade divulgada e decantada pelos quatro cantos do mundo, mas sim está em guardá-la bem escondido. Como se fosse um tesouro.

2 comentários:

  1. Bonito post Madeira!
    Eu também descia pra Cidade na minha época de guri pra fazer fotos 3x4 e depois tomar uma laranjinha e uma coxinha de galinha por essas bandas. Ótima recordação!

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  2. Adorei a memória, André! Gosto de ler esse tipo de memória, o que vem de dentro, nada copiado de outros autores, nada muito elaborado, mas a simples memória da nossa infância... Adorei!!

    Bjão e boa semana!

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